Deus não perdoa

Se você acha que Deus perdoa, você está errado. Se acredita no amor de Deus, você está certo. Perdoar não é amar o próximo, pelo contrário, é amar a si.

Deus não perdoou o povo judeu quando este pediu um rei, mesmo Ele alertando que não era necessário. Moisés não foi perdoado por um único erro. Cristo deixou bem claro que, para entrar no Céu, é necessário antes acertar as contas com seu inimigo, ou seja, quem perdoa são os homens. Deus não perdoa.

O caminho do perdão é tortuoso e libertador. Quando se aprende a perdoar, encontra-se a Liberdade. É um sentimento incomparável, único. Não há algo que se assemelhe ao Perdão. Quando perdoamos entendemos que o erro foi nosso e não o da pessoa, supostamente, perdoada. A partir do momento que sentimos o Perdão, aprendemos que provocamos os erros que levaram a pessoa, supostamente perdoada, a praticar o que acreditamos ser, “crimes” contra o nosso ego.

Posso afirmar sem titubear que o Perdão é, antes de qualquer coisa, o autoconhecimento, a evolução do estado medíocre para o estado humano. Tornamo-nos humanos quando perdoamos, pois perdoamos nossos erros.

É um instante único. Um estalo. Um piscar de consciência. Apenas um milésimo de tempo separa o Eu passado do Eu presente – e isso é maravilhoso! Foi desse modo que eu entendi o “muitos os chamados e poucos os escolhidos”. Juntando os mandamentos de Cristo, percebi se tratar do mais complexo, do mais lógico e do mais racional sistema de Leis elaborados em nosso planeta, em todos os tempos.

Aponte um conjunto de Leis “pré” crime, apenas um. Todos os conjuntos de Leis, sagrados ou não, são “pós” crime, ou seja, todas as Leis que existem preveem castigos após o crime cometido. Apenas Cristo nos trouxe, através do Sermão da Montanha, o mais duro e disciplinador conjunto de Leis. Cristo foi o primeiro a afirmar: “melhor arrancar o próprio olho do que este lhe servir de escândalo” – eu pergunto: “qual dos profetas ou dos sábios do mundo trouxe Lei semelhante?”

O maior dos mandamentos de Cristo, em minha opinião, é este: “vá e acerte suas dívidas com seu irmão, depois vem e Me segue” – não há regra mais dura que esta. Quem tem a coragem para pedir Perdão sincero? Perdão é a capacidade de olhar dentro de si e aceitar a Cristo.

Não existe outro caminho. Quer entrar no Céu? Perdoe. Quer vencer aqui na Terra? Perdoe.

O Perdão não é ato de amor com o próximo, é consigo. É olhar a própria vida e dizer: O que eu fiz? Como eu deixei surgir esta situação? Com essas perguntas inundando o coração e a alma, o Perdão acontece. É um milésimo de tempo entre o Eu passado e o Eu presente. É mudança e é instantânea.

Não existe conselho para aprender a perdoar. Não há teoria ou pensamento filosófico capaz de expressar esse instante. Não há sábio capaz de extrair ensinamento desse momento. É um momento tão íntimo que Cristo disse: “vá e acerte suas dívidas” – Ele não falou: “vem aqui que Eu te Perdoo”. Entende isso?

Cristo dirá ao hipócrita “saia daqui, não te conheço” mesmo o hipócrita insistindo que cumpriu os mandamentos e praticou a caridade com os mais necessitados. Todavia, se esqueceu do mais importante: “acertar as próprias dívidas”. Um novo Homem nasce quando o velho Homem morre – essa é a consequência do Perdão.

O Amor surge como algo desconhecido, maravilhoso. Ele aparece apenas após o Perdão. Até a milésima fração de tempo que separa o Eu passado do Eu presente, toda forma de amor humano é utopia, não é real. Trata-se de uma ideia pré-definida em livros de sábios humanos. Um conceito imperfeito da Lei Divina, uma relação limitada e hipócrita entre duas ou mais pessoas, sejam elas um casal, irmãos ou amigos. O Amor não é essa limitação humana explicada por supostos sábios cheios de títulos e normas para justificar sua incapacidade de evolução. A evolução só acontece após o Perdão. Não há como questionar esse fato.

O Perdão acontece apenas, e infelizmente, quando o Homem está no fundo do poço, está num beco sem saída. Ele precisa perder tudo para dar valor à única coisa que lhe foi dada de graça: a própria Vida.

Deus não perdoa. Ele não precisa perdoar.

Após o milésimo instante de tempo, aprende-se que não é necessário perdoar quem nos ofende, por isso, Deus não perdoa. Ele é Perfeito, se não o fosse, Ele perdoaria. Lembre-se de Cristo: “vá e acerte suas dívidas com seu irmão, depois vem e Me segue”.